sábado, 23 de dezembro de 2017

ANNIE GOETZINGER: MORRE UMA PIONEIRA DOS QUADRINHOS NA FRANÇA (1951-2017)

Annie Goetzinger -  Imagem disponível em: 
http://www.comicsbeat.com/rip-annie-goetzinger/,
capturada em 20 dez. 2017.
A quadrinista Annie Goetzinger nasceu em 18 de agosto de 1951, em Paris, e faleceu no dia 20 de dezembro de 2017, aos 66 anos de idade. Formou-se em arte e designer de moda, em 1971. Sua entrada, no mundo dos quadrinhos veio através das aulas que teve com o desenhista francês Georges Pichard. 

A autora confessou em uma entrevista que, a princípio, sentiu  muita dificuldade em entender a dinâmica entre imagem e narrativa, própria dos quadrinhos. Mas ao final do curso ela superou suas dificuldades e conseguiu produzir uma história em quadrinhos que não apenas lhe rendeu os créditos que precisava como despertou nela o desejo de fazer mais, de se profissionalizar. 

Em pouco tempo, ela já havia publicado trabalhos na Circus, L'Echo des Savanes, Fluide Glacial, Métal Hurlant e na conceituada revista Pilote onde, em 1972, publicou suas primeiras histórias completas. Além de assinar sozinha vários de seus trabalhos, Annie Goetzinger ilustrou vários álbuns em parceria com outros autores. 

Com Víctor Mora, por exemplo, deu forma a heroína mascarada Felina, seu primeiro grande sucesso comercial, cujo primeiro tomo foi publicado pela Glénat, em 1978. Felina era uma versão feminina do Fantasma, cujas aventuras aconteciam no início do século XX  século e que marca a estreia da autora no estilo Art Nouveau, que caracteriza boa parte da sua obra. 

Disponível em: https://www.tebeosfera.com/sagas_y_arcos/felina_1978_mora_goetzinger.html,
capturado em: 23 dez. 2017.
Annie Goetzinger transitou entre ficção, história e biografia. Como artista, uma de suas características era a preocupação com os detalhes, principalmente com das vestimentas,  herdada possivelmente da sua formação em designer de moda. Feminista Annie gostava de contar histórias de mulheres fortes, reais ou fictícias, tendo tido em seus álbuns muitas protagonistas fortes: escritoras, heroínas e até prostitutas.
 
Imagem disponível em: https://www.pinterest.com.au/pin/454300681151440670/,
capturada em 23 de dez. 2017.
Seu primeiro álbum completo, Casque d'Or, publicado em 1976, pela Glénat, que trazia uma narrativa romantizada de Amélie Elie (1878-1933), uma prostituta que viveu na Paris da Belle Époquelhe rendeu dois prêmios durante o Festival Internacional de BD de Angoulême, em 1977, tornando-a uma das raras mulheres a serem premiadas em Angoulême. 

Imagem disponível em: http://imgaram.com/tag/rip, acesso em 23 dez. 2017.
Em 1978 publicou o álbum Aurore, une vie de George Sand, pela Éditions des femmes, onde contava a história Amandine Aurore Lucile Dupin, baronesa de Dudevant, aclamada romancista, cujo comportamento ia contra as regras sociais de seu tempo, que assinava com o pseudônimo de George Sand.
 
Imagem disponível em: https://www.cbr.com/annie-goetzinger-brings-vintage-couture-to-life-in-girl-in-dior/, capturada em 20 dez. 2017.
Em 2015, publicou seu primeiro álbum em inglês, Girl in Dior, conta a história de uma jornalista fictícia, chamada Clara, que faz a cobertura da estreia do estilista Christian Dior, em 1947, momento de ruptura com os padrões de estética que revolucionou o mundo da moda na Europa pós-guerra, sob o olhar de duas mulheres: a protagonista e a autora. Uma obra de história da moda, em quadrinhos.  
 
Imagem disponível em: https://br.pinterest.com/pin/558164947557366859/, capturada em: 23 dez. 2017.
Seu último álbum, Les Apprentissages de Colettefoi lançado em março 2017, pela Dargaud. Outra biografia da escritora francesa Colette (1893-1954), mulher forte que superou diversas dificuldades para se tornar uma autora reconhecida. Annie Goetzinger a descrever, no release da obra, como uma mulher “não convencional” e de “exemplo para todos nós que essa mulher incrivelmente complexa, dotada e determinada.” Em uma carreira de mais de 40 anos foram mais de trinta álbuns, sem contar em trabalhos publicados em revistas e jornais, dentre eles o Le Monde.  


Assim como Claire Bretécher e Chantal Montellier, Annie Goetzinger abriu caminho para que as mulheres ganhassem visibilidade na imprensa ilustrada na França, nos anos de 1970. Um espaço que era praticamente um domínio masculino, mas que foi forçado a reconhecer o talento das mulheres, que ainda hoje lutam pela oportunidade de conquistar reconhecimento na indústria dos quadrinhos franco-belga. 

Fontes consultadas:
ALVERSON, Brigid. Annie Goetzinger Brings Vintage Couture to Life in “Girl in Dior” (2015). Disponível em: https://www.cbr.com/annie-goetzinger-brings-vintage-couture-to-life-in-girl-in-dior/, acesso em 21 de dez. 2017.

ANNIE Goetzinger. Disponível em: https://www.lambiek.net/artists/g/goetzinger.htm, acesso em 21 de dez. 2017.

GIULIANI, Emmanuelle Annie Goetzinger, une mine pour la croix (2017). Disponível em: https://www.la-croix.com/Culture/Annie-Goetzinger-mine-Croix-2017-12-20-1200900969, acesso em 21 de dez. 2017.

HERRIMAN, Kat. Dior in Action (2015). Disponível em: https://www.wmagazine.com/story/christian-dior-anne-goetzinger-book, acesso em 21 de dez. 2017.

NIVEN, Lisa. Dior: The Comic (2015). Disponível em: http://www.vogue.co.uk/article/girl-in-dior-graphic-novel-by-annie-goetzinger, acesso em 21 de dez. 2017.

POTET., Frédéric. La dessinatrice de bande dessinée Annie Goetzinger est morte


RATIER, Gilles. Annie Goetzinger : des premiers pas déjà tout en elegance (2013). Disponível em: http://bdzoom.com/68413/patrimoine/annie-goetzinger-des-premiers-pas-deja-tout-en-elegance%E2%80%A6/ , acesso em 23 de dez. 2017.

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